Não é uma descrição do blog, nem uma carta de intenções. As palavras iniciais de O Gato Preto, de Poe, sugerem a possibilidade de que o doméstico e o assomboso (o familiar e o único) se alimentam e se fazem multiplicar, pois desde o início não formam um par, mas uma multidão. As pegadas do gato iluminam o caminho que se bifurca à exaustão.
“Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã morro e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos”.
Edgar Allan Poe, O gato preto, 1843